sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Carta Aberta do Rei Momo as Igrejas

Gostaria de expressar minha gratidão por deixarem a cidade inteiramente entregue ao meu reinado. Acho que refugiar-se num retiro foi a melhor coisa que vocês poderiam fazer durante o período carnavalesco.


Estou muito à vontade. Não se preocupem com as almas perdidas, eu cuidarei de cada uma delas pessoalmente, garantindo-lhes muita folia, seguida de tristeza sem fim. Confetes sucedidos de cinzas, fantasias em vez de vestes de louvor, espírito abatido em vez de alegria perene.

Eu deveria condecorar vocês! Seus pastores são meus heróis. O que seria do carnaval se vocês continuassem por aqui, nos importunando, com suas igrejas abertas para receber meus súditos? Prefiro vê-las com as portas fechadas... assim, pelo menos, tenho a cidade inteira ao meu dispor.

Desejo que vocês se divirtam durante o retiro. Ouço dizer que alguns de vocês aproveitam para aprontar as suas... Já até liberei alguns enviados especiais para garantir certa medida de libertinagem lá.

Meninos... comportem-se! Ou pelo menos, finjam isso.

Às vezes penso que a diferença entre meus súditos e eles é que meus súditos tiram as máscaras durante o carnaval, eles não.

Parabenizem seus líderes! Muitos deles me desdenham, mas servem ao meu primo Mamom. Ou vocês nunca pararam pra pensar que é mais barato pular carnaval do que pagar por um retiro desses?

Ah... já ia me esquecendo. Agradeço também àqueles que montaram seus próprios blocos, segundo eles, com o propósito de evangelizar durante a minha festa. Bobos esses meninos! Eles têm mais de trezentos dias do ano para isso, mas preferem colocar o bloco na rua justamente quando ninguém está disposto a ouvi-los. Muitos deles aproveitam a boa justificativa pra matar saudade do mundo...

Tem uns chatos aqui que insistem em manter a igreja aberta, e ficam de plantão para atender aos foliões... Quem eles pensam que são? Ousam desafiar o meu reinado? Eles caminham pelas avenidas esboçando um olhar misericordioso e um sorriso discreto. Agem como se fossem agentes secretos de outro reino invadindo meu domínio. Preciso tomar cuidado com esses, pois são perigosos, subversivos e extremamente nocivos.

Fonte: Hermes C. Fernandes
 
 

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